historinhasdamoleque

segunda-feira, junho 18, 2007

Não é só que eu não goste que me chamem de "tia".

Encontrei um artigo que coloca a questão da "tia" de educação infantil de modo bastante organizado. Reproduzo um trecho abaixo e dou o link para o documento em pdf no final.

"A ambigüidade entre o doméstico e o científico chega até os dias de hoje em que, no cotidiano da educação infantil, predomina a utilização de termos como “professorinha” ou “tia”, que configuram uma caracterização pouco definida da profissional, oscilando entre o papel doméstico de mulher/mãe e o trabalho de educar.

Assim, essa mulher/mãe não chega a ser professora devido à proximidade extrema que seu trabalho possui com o doméstico e o privado (toda mulher teria adormecidos dentro de si os dons da maternidade e de educadora da primeira infância); e por outro lado não chega a ser mãe, pois, biologicamente, não foi ela a responsável por todas aquelas crianças que ficam sob seus cuidados. Essa fusão entre mãe e professora é sintetizada na bastante conhecida utilização do termo “tia”.

Como analisa Novaes (1987), a “tia” é vista como uma substituta da mãe, pessoa adequada para o trabalho feminino de cuidar de crianças pequenas, de preferência jovem, solteira e possuidora da moral inabalável pregada por Montessori.

Chamá-la de mãe não seria possível, mas associá-la a outro membro da família atenuaria o choque da separação da mãe, aliviando, ao mesmo tempo, a culpa sentida pela mãe de ter que abandonar seu filho nas mãos de uma pessoa estranha.

Ninguém melhor do que a “tia”, que não está relacionada à figura terrível da professora, pois a tia é boazinha, sendo conhecida da criança e simbolizada na família como aquela figura secundária, geralmente celibatária, que passa sua vida a exercer, por meio dos cuidados com os sobrinhos, a maternidade que não pode ter.

Por não ser aquela que dá à luz a criança e que amamenta, essa mulher passa a ser a que cuida com carinho, paciência, amor e bondade, caracterizando-se como uma personagem secundária, à qual não cabe, portanto, a tarefa de ensinar, devendo evitar a todo custo que a criança sofra por sentir-se separada de seu lar. A sala da “tia” deve ser um locus que dá continuidade à vida doméstica da criança e junto com o ambiente e seu mobiliário essa mulher deve-se colocar simplesmente como algo a mais a auxiliar o desenvolvimento infantil."


Acho que a autora exagerou um pouco na crueldade, mas reconheço valor nas suas colocações. Não há necessidade de hierarquias previamente estabelecidas, nem de enganar as crianças, que são perfeitamente capazes de nos chamar pelo nome. Há condição de estabelecer um ambiente de muito mais respeito e consideração mútua se nos tratarmos a todos como iguais.

documento:
DOCUMENTAÇÃO OFICIAL E O MITO DA EDUCADORA NATA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
ALESSANDRA ARCE

Doutoranda pela Faculdade de Ciências e Letras da
Universidade Estadual Paulista – Araraquara
learce@zipmail.com.br

texto em pdf

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posted by Leila País de Miranda @ 9:05 AM