historinhasdamoleque

sexta-feira, março 18, 2011

Bruna

Me lembrei deste texto que escrevi em 2003, depois de conviver com a Bruna, uma das primeiras crianças com Síndrome de Down com quem trabalhei.
Quis compartilhar com vocês.
Beijos,

Historinhas da Bruna
(2003)

Trabalhar com a Bruna tem sido muito legal.
A Bruna é especial, assim como cada uma das 160 crianças com que lido há 5 anos, uma vez por semana. Todas são diferentes umas das outras, todas são iguais, todas inventam…

A Bruna tem 5 anos e tem Síndrome de Down. O nome é muito feio e a Bruna é muito linda. Muito enfeitada, eu a vi na rua passeando de mãos dadas com as tias, eu acho, ou com a tia e a mãe, num dia fora da escola, com um macacãozinho tão bonitinho, e ela estava tão enfeitada! A gente vê que é uma menininha muito amada e muito caprichada.

Logo no primeiro dia de aula, Bruna quis passar do jardim para a garagem pulando a mureta, assim como seus colegas haviam feito. Eu já estava no portãozinho, um pouco longe, e fiquei apreensiva – eu não sabia o que ia realmente acontecer, mas achei que podia e resolvi confiar e acompanhar e… ela conseguiu!! Eu achei muito bacana, e desde então, tenho muita fé no uso que ela faz do seu corpo.

Um dia a Maria Fernanda, uma mocinha muito solícita e maternal também com 4 anos de idade, foi ajudar a Bruna a pular a tal mureta, e conseguiu ajudar mesmo, carregando a Bruna um pouquinho. Maria Fernanda ficou muito orgulhosa e satisfeita. Bruna ficou chateada, já que foi ajudada totalmente sem querer.

Ela não pula. Mas observei minha filha desenvolvendo seu próprio pulo, e vi que tudo começou com um “pulo só de braços prá cima e pés colados no chão”, e foi desenvolvendo até virarem pulos mesmo. Talvez a Bruna venha a desenvolver seu pulo. Vou estudar e acompanhar.

A Bruna a-do-ra ver seu portfolio aqui da Moleque. Ela se senta lá na mesa de reunião e fica passando as páginas e eu pergunto se ela está gostando e ela diz que sim.

No início a Bruna dizia muito não. Agora ela ri, diz que sim, se alegra, brinca de esconder… Normal.

Bruna é irmã de Tadeu. Tadeu é mais velho que ela 2 ou 3 anos. E estuda aqui na Moleque de ideias também. Ele vem às segundas-feiras, e ela na quinta-feira. Aconteceu algo muito engraçado: A Bruna estava lá na mesa vendo os seus trabalhos, Eduarda e Gabriella estavam cortando cartinhas de yu-gui-oh que haviam acabado de fazer, e eu estava com os outros nos computadores, quando ouvimos um barulho. Gabriella me avisou que Bruna tinha deixado cair alguma coisa e eu disse à ela:

- Pega, Bruna. Pega aí no chão.

Ela emburrou um pouquinho e disse não. Continuamos:

- Não foi você não, Bruna?
- "Não." Disse ela, bem fechada.
- Quem foi? Foi Gabriella?
- "Não."
- Foi Eduarda?
- "Não."

Fiquei quieta um pouco e provoquei:

- Foi Tadeu??

E ela, um pouco espantada, mas logo com a cara mais sapeca do mundo, mandou:

- "Foi! Foi Tadeu!"

Outro dia estávamos no jardim eu, Bruna e Gabriella. Elas estavam brincando e eu achei um galho bom para varinha de condão. Dei para Gabriella e depois conseguimos outro para Bruna. Gabriella foi lá para dentro e Bruna falou – "Bussa!" Brincamos então dela me enfeitiçar e eu fazia - "Ai! Socorro! A Bruxa está me jogando feitiço!!" Ela adorou, e virou uma boa brincadeira.

A Bruna se assusta muito com ruídos repentinos. Dá peninha, mas também dá gosto ver como as coisas acontecem para ela, assim, de modo tão forte e intenso. Dá muita vontade de cuidar para que ela não fique se assustando à toa. Mas ao mesmo tempo a gente vê que ela tem tutano.

No início do ano, durante um bom tempo, as outras crianças corriam para se esconder atrás do murinho que tem quando a gente está chegando na Moleque. Eu e Bruna vínhamos mais devagar, de mãos dadas, e ela tapava o ouvido com o dedo, porque sabia que vinha grito de Buuuu! e grito=barulho=susto, e ela nunca foi boba. Hoje passou esta fase. Agora ela corre na minha frente junto com eles e se esconde também, para me assustar. Eu passo pelo murinho e eles todos vem gritando e correndo e depois do susto todo mundo ri junto.

Leila

Share |
posted by Leila País de Miranda @ 10:33 AM 2 comments

sexta-feira, março 11, 2011

Nossa!

Agora que eu vi que já estou desde setembro de 2010 sem escrever aqui. Também, hoje em dia é Facebook, Twitter e Molequedeideias.net. Tá bom, eu acho. Mas aqui foi o primeiro, tenho um caminhão de carinho por este blog. Quem sabe ele ficando assim, abertinho num canto do navegador, eu consigo chegar aqui e colocar uns pensamentos para rodar por aí. Por hoje foi isso!

Share |
posted by Leila País de Miranda @ 1:48 PM 0 comments

domingo, setembro 12, 2010

Nós realmente somos capazes de muita maldade.

A rua é a Avenida Romanda Gonçalves, em Itaipu, onde caminho. A imagem do túnel de galhos e folhas, que criava um ambiente muito fresco e úmido, peculiar e interessante, é de 02/02/2009, escrevi sobre ela em: Árvore dá sombra e resfria o ambiente.

Menos de um ano depois, o dono da casa mandou cortar a paisagem. Escrevi em Mão do homem.

Dias depois, a mesma criatura das trevas me fez lembrar do horror nazista ao envolver o tronco das árvores em grandes quantidades de arame farpado. Escrevi em: Pode isso?



E ontem, 8 meses depois do arame, senti cheiro de queimado e percebi que o monstro, provavelmente em homenagem à primavera que se aproxima, mandou cortar e tocou fogo nos troncos caídos no chão, ainda envolvidos no arame farpado. Tirei um montão de fotos e peguei um pedaço da casca queimada para guardar aqui em casa comigo. Nós realmente somos capazes de muita maldade. Agora, esse sujeito avisa. Espiem as plaquinhas no portão dele:


Pena que a árvore não sabia ler. Nem correr.

Share |
posted by Leila País de Miranda @ 8:16 PM 0 comments

terça-feira, setembro 07, 2010

Trauma pré-natal e autismo, Suzanne Maiello, Rome, Italy

"... nature and nurture are interwoven from the very beginning, and that the further we go backwards in time towards the origins of life, the less it is possible to separate the physical and the psychic aspects of events."

"The earlier in development a traumatic event occurs, the more any protective reaction will be rooted in the body and the senses."

"she attributed the mental state of children who were born autistic to prenatal 'aversion reactions''

"Freezing is a liquid's way of becoming a solid body."

"... all the mothers of her autistic patients had been clinically depressed before or after the birth of their babies (1986, 1990)."

"Infant observation teaches us how differently babies react to frustrating situations. It is tenable that individual differences exist also before birth."

"Touch and hearing are the main sensuous channels through which the foetus establishes contact with its environment."

"The effect of this aversion reaction could be that of remaining in or returning to an asymbolic state of 'unmentalized experience' (Mitrani, 1992)."

"We know that although the mothers of Tustin's autistic patients were all depressed, not all children of depressed mothers escape into autistic isolation. In children who are born with autism there may have been a deficit of this prenatal 'protomental filter' resulting in them being exposed even more helplessly to the osmotic pressure of the maternal emotional and mental state."

"The mother saturated every moment of possible reflective silence with an uninterrupted flow of words."

"It was, perhaps, my perception of Rosetta's liquid mental state, together with the paroxysmal quality of her panic, and her total inability to show me what I could do to hold her together, that made me think of the utter helplessness of the foetus when there is a threat of miscarriage. It is a matter of life and death, and there is nothing the foetus can do about it."

"... suggest that the discovery of her own powerful voice may have broken the circle and opened the way to freeing herself from the terror- stricken adhesive closeness to her mother and to feeling the emotion of existing as an individual."

"Kanner's metaphor of the 'refrigerator mothers' is met perfectly by Tustin's image of the 'frozen child'. Container and contained share an experience of coldness."

Share |
posted by Leila País de Miranda @ 7:42 AM 4 comments

quarta-feira, julho 14, 2010

Achei bacana isso.



Máquina para fazer histórias junto com outras pessoas.

Share |
posted by Leila País de Miranda @ 7:11 PM 0 comments

sexta-feira, julho 02, 2010

Rejeição.

Os três estão tratando mal o João, cada qual ao seu modo. E eu levei um soco no peito ontem com uma certa força, e apelei por enquanto para o "Não faz isso não, eu não gosto que faça isso comigo não." Mas não empurrei de volta. Os meninos estão tratando mal o João, e de diferentes maneiras reproduzindo o "Afaste-se." O afaste-se que a gente vê na sociedade fica evidente nas crianças:

1) O Emmanuel é o mais cabeça, mas empurra na partida. Ontem João chegou no computador que estava usando e foi empurrado pelo Emmanuel que já teve aquele computador como dele. Agora é o João que, tendo usado este computador por duas vezes seguidas, acha que o computador é dele. Então chegou ontem já pegando no mouse, passando por cima do João Emmanuel. Que empurrou o João para longe dele. Intervi, apontei outro computador para o João, ele usou. O que fica é que podemos repartir. Os dois podem. Os dois podem alternar o uso do recurso. É bom este desapego, eu acho.

2) O Vitor, mais expansivo, fala tudo o que vem à cabeça. "João é maluco. Mas ele é maluco, ué." E por aí vai, mil e uma maneiras de provar que o João é maluco, porque isso, porque aquilo. E diz como incomoda, mesmo quando ele não está incomodando ninguém. E ontem pediu por duas vezes para que o João parasse de fazer barulhos irritantes, como o som do Kid Pix ou da Coleção Pense Brincando. Logo ele, Vitor, que fala alto à bessa, sempre falou, sempre muitos decibéis acima do povo, e sempre amado. Quando incomoda, a gente pede para ele baixar a voz. A gente pede para ele. Então, a minha proposta é que ele peça para o João, que ele fale com ele.

3) O Gianluca fica mandando regras: "- Você respeite a Leila. Você respeite ela." E eu peço que ele interaja de formas diferentes também, não só na linha do controle, mas da brincadeira juntos, do sorriso, do olhar. Da troca.

Para mim também está difícil ainda, mas está cada dia com mais passado. Mais relacionamento acumulado. Ontem quase gostei porque pareceu que João não viria. Mas ele veio e eu aceitei. É uma forma de exercitar amor, humanidade, conhecimento. Nós dois. Eu e o João. Nós 5, Eu, João, Emmanuel, Vitor e Gianluca. 5 nós.

Share |
posted by Leila País de Miranda @ 10:38 AM 0 comments

sexta-feira, junho 11, 2010

Pepakura tá na moda aqui na Moleque de ideias.


O dinossauro foi o Anderson, a coruja foi o Bernardo e os outros dois eu vou descobrir quem foi que fez.

Pepakura

Share |
posted by Leila País de Miranda @ 11:51 AM 1 comments