historinhasdamoleque

sexta-feira, junho 30, 2006

Acabou hoje o curso sobre a Escola da Ponte...


Hoje acabou meu curso querido sobre a Escola da Ponte! Aprendi muito, li muito, pensei muito, escrevi muito, foi muito bom este curso! Educação é isto, quanto mais a gente aprende mais reconhece que tem que continuar aprendendo. Foi muito bom interagir com todos os meus colegas e professores na sala, no café... Hoje à noite vou pensar em cada um e mandar muito boas energias, enquanto aprecio com moderação um chopp alemão em homenagem à Alemanha que derrotou a Argentina!!!!

Um graaaaaaaaaaande abraço e até breve!!! Tomara que possamos nos esbarrar por aí, e lembrar de quando estudamos juntos!

Música? Um monte, prá gente dançar até de manhã!
Beijos!!!!!!!!

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posted by Leila País de Miranda @ 5:21 PM 1 comments

segunda-feira, junho 26, 2006

Disciplina e avaliacao


Dois temas muito instigantes na semana passada e nesta agora, última semana do curso (que pena!!). Vamos conhecer como a escola da ponte avalia seus alunos (muito provavelmente como os auxilia a se auto-avaliarem), mas eu não li os textos ainda.

Na introdução de um trabalho escrito pelo professor Paulo Topa para seu mestrado em Ensino e Aprendizagem de Matemática, uma frase primorosa: "Critical thinking is thinking that assesses itself. To the extend that our students need us to to tell them how well they are doing, they are not thinking critically."

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posted by Leila País de Miranda @ 10:03 AM 0 comments

segunda-feira, junho 19, 2006

Feriado com direito a Pinguim!


Semana passada ficamos de férias no curso sobre a Escola da Ponte. Mas estou com sorte em relação a conhecimento! Quinta-feira fez um dia lindo e fomos à praia de Itacoatiara, e pela primeira vez na minha vida, vi um pingüim na natureza! Fiz a foto, que agora tá aí, e para complementar a informação, reproduzi a seguir um texto que colei do site do museu da vida da Fiocruz. Fiquei impressionada com a distância percorrida pelo pingüim, e que eles tem que ser levados de avião para pegarem uma corrente marítima favorável lá no Sul do Brasil. E fiquei muito orgulhosa do Zoológico de Niterói, onde os bichinhos são cuidados para voltarem fortes para casa! Parabéns ao salva-vidas que salvou a vida do pingüim, e parabéns para o pingüim, que conseguiu chegar vivo!!!!


De volta à natureza

Matéria publicada pelo Museu da vida, da Fiocruz

Nos meses de inverno, entre junho e setembro, um visitante inusitado costuma aparecer nas praias do litoral sul e sudeste brasileiro: o pingüim. Muita gente logo imagina: “Mas como pode ele sair daquele lugar gelado e vir parar aqui, neste calor?!”. E rapidamente, com a melhor das intenções, coloca o bichinho no gelo.

“Esse é um erro muito comum”, alerta André Sena, médico-veterinário responsável pelo Zoológico de Niterói, que faz a reabilitação destes animais e sua reintrodução na natureza. Ele explica que essa forma de resfriar um pingüim pode levá-lo à morte por hipotermia (baixa temperatura).

Segundo o veterinário, isso ocorre porque, em geral, os pingüins chegam muito magros e debilitados, com menos 30 a 60% do seu peso. Por causa da diminuição das suas reservas de gordura, eles precisam ser aquecidos, e não resfriados, para que a sua temperatura volte ao normal, em torno de 39° Celsius.

Além disso, o pingüim que aparece por aqui não é o famoso Imperial que vive no gelo da Antártica, mas o pingüim de Magalhães , da espécie Spheniscus magellanicus, que vive em climas mais amenos no sul da América do Sul – mais precisamente nas Ilhas Malvinas e na costa da Argentina e Chile.

André Sena esclarece que a maioria dos pingüins que chega ao litoral brasileiro é formada por jovens inexperientes, que entram em correntes marítimas mais fortes em busca de alimento, principalmente anchovas, e não conseguem retornar. “Além de magros, muitos chegam com ferimentos causados por ataques de tubarões ou de outros predadores marinhos, desidratados e com muitos vermes. Por isso, precisam ser imediatamente medicados”, complementa, informando que chegam ao Rio, anualmente, cerca de 50 a 60 pingüins.

No Zoo de Niterói, os pingüins passam por um processo de reabilitação que dura em média dois a três meses. Depois, viajam em aviões da Força Aérea Brasileira até o Centro de Reabilitação de Animais Marinhos, na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Aqueles que têm condições são levados por embarcações da Marinha e soltos em uma corrente marítima que volta para o sul.

O veterinário não sabe dizer quantos pingüins conseguem sobreviver, mas acredita que independente dos números, dar a esses animais mais uma chance é uma forma de compensá-los pelos estragos que o homem tem causado, seja com a pesca e a caça predatória, com os derramamentos de óleo, ou a destruição do seu habitat natural.

Segundo ele, o esforço do projeto para reintegração dos pingüins é, sobretudo, conscientizar a população acerca da necessidade de se preservar a natureza: “Nós damos a esses animais mais uma chance, e ainda ganhamos enormemente em educação ambiental”, anima-se.

Caso você encontre um pingüim na praia, chame imediatamente a Polícia Ambiental, a Defesa Civil, ou o Corpo de Bombeiros da sua cidade.

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posted by Leila País de Miranda @ 9:25 AM 1 comments

segunda-feira, junho 12, 2006

Motivos

Fase de jogo construído por Ulisses, 9 anos.










Motivos para não ficar parado. Será que o desejo sempre vem da carência? Muito do tempo que se perde na escola é devido a desinteresse geral, por razões variadas. Uma delas é a separação total entre o que acontece na escola e o que está acontecendo na vida. Todo mundo reclama disto quando é estudante, mas parece que não encontramos alternativas e continuamos a repetir a mesma fórmula, sejamos pais ou professores. O desinteresse atinge a todos, até mesmo as crianças. Todos obrigados a rotinas que não querem cumprir, estudando assuntos que não querem estudar, mas fingindo que está tudo bem, ou conformando-se diante do imutável.

Um ponto a favor de tentar mudar é a imensa folga que há no tempo de escola. As crianças ficam 4, 8, 12, 15 anos na escola e há tanto desperdício e repetição que é possível errar e corrigir rumos no processo de mudança e ainda assim conseguir resultados muito superiores.

Que resultados superiores? Um tempo melhor para todos, com vibração, alegria de conhecer, superação, troca, progresso, um tempo de reflexão sobre o progresso, tempo de ler, de ver, de relacionar, de criar, de emocionar-se, de entediar-se, de sair do tédio. E de construir seres mais conscientes e sinceros consigo mesmos, que não desaprendam a dizer se estão gostando ou não de algo, que saibam respeitar por estarem sendo respeitados.

Não é uma utopia, é perfeitamente possível. Não é criar um mundo de bonzinhos, mas de pessoas que encaram o mundo como ele é, e que tentam criar seus próprios mundos novos, e que sabem lidar com a vida com maturidade e informação. Que reconhecem valores familiares, limites, e que criam suas próprias saídas, e que, de preferência, valorizem o conhecimento e o afeto.

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segunda-feira, junho 05, 2006

Exagero / Autoridade rima com Liberdade?

Imagem de filme de animação quadro-a-quadro feito por Tadeu, Paulo e Breno, 9 anos.






Minha filha de 17 anos viu a anotação sobre a carta do Prof. José Pacheco e disse "Prá que tanto ponto de exclamação?". Eu disse que era para enfatizar a alegria. Ela disse "Credo! Parece que viu o papai noel!"

Hoje estava estudando lá no site da Aquifolium e respondi uma carta e coloquei o link para o blog. Quando entrei aqui vindo de lá, e dei de cara com os pontos todos de exclamação, achei mesmo um exagero, fiquei meio envergonhada! Mas na hora que recebi a carta eu fiquei assim mesmo, feliz demais. E fiquei muito emocionada com vários dos textos que eu li, escritos pelo professor José Pacheco. Um deles, sobre liberdade e autoridade, está a seguir:

Amigo Wilson,

Perguntas: autoridade rima com liberdade? A resposta é afirmativa, embora exista sempre a possibilidade de "escorregar para o autoritarismo". Talvez, como dizes, seja parte da tal "heranca maldita" que as ditaduras deixaramtanto em Portugal quanto no Brasil, países que detêm a sina de serem governados por ridículos tiranos, como diria o Caetano.

A diferença entre autoridade legítima e autoritarismo é abissal. E, aqui poderíamos dar início a uma longa conversa. Mas lembrei-me de que, há alguns anos, o problema da indisciplina estava na ordem do dia e eu também escrevi nos jornais. Publiquei uns artigos (ligeirinhos.) sobre autoridade e indisciplina. E a ironia calou "argumentos".

Deixo-te alguns dos artigos. Têm, entre outros defeitos, o estarem velhos e de se referirem à realidade portuguesa.

"Moço que não é castigado não será cortesão nem letrado"

INDISCIPLINA (Parte II)

Assinalo a publicação do estatuto dos alunos dos estabelecimentos públicos dos ensinos básico e secundário[1]. Mas, porque já tive oportunidade de dizer o que penso sobre este assunto num artigo anteriormente publicado neste jornal, deixar-vos-ei, desta vez, com alguns excertos de artigos publicados na revista O Ocidente.

Recolhi-os nas suas edições de Maio e de Junho de... 1887, muito provavelmente as mesmas nas quais uma ilustre deputada da actual Assembleia da República deve ter colhido inspiração para recentes intervenções.

Recuemos até ao tempo em que as câmaras mandavam. A citada revista rezava assim: "A questão disciplinar é da exclusiva competência do Governo. A câmara de Lisboa decretou ex-abrupto a proibição absoluta dos castigos corporais, quando o regulamento do Governo os permite em hipótese. O regulamento autoriza os mestres a aplicarem em casos extremos um pequeno castigo paternalmente dado e sem rancor.

O Governo com o seu regulamento dá os meios para se conseguirem os fins, pugna pelo bom carácter civil, moral, religioso e literário do ensino. A câmara, autorizando a anarquia com as suas teorias regulamentares, destrói o carácter do ensino.

Ora o que sucede?

É fácil de perceber. O aluno refractário, cheio de maldade, não obedece à palavra e tem a certeza da impunidade, porque a câmara a decretou. O professor esfalfa-se para restabelecer a ordem e não o consegue porque a onda de insubordinação cresce e responde: "se me toca, bastar-me-á meia folha de papel selado para que a câmara o derreta, agora veja lá o que faz!"

E há sempre um quadro teórico de referência... "Segundo Genuense, Laromiguer, Joufroid e outros, o homem é formado de matéria e espírito. Proibindo os castigos referentes à psico e ao corpo, só por exclusão de partes se autoriza os espirituais. Mas castigos espirituais apenas existem na imaginação da câmara de Lisboa, puramente espiritualista.

A câmara administradora da instrução do povo invadiu os domínios alheios, intrometendo-se na questão disciplinar, e por isso converteu as escolas em moinhos.

As escolas são moinhos de monotonia, moinhos no ruído da indisciplina, que vai lavrando a olhos vistos; moinhos porque os mestres saem moídos da escola, onde, em vez de ensinarem o que sabem, gastam o tempo gritando contra os díscolos que não atendem às explicações."

Finalmente, entre a metáfora do moinho e a separação das águas... "Os mestres quase nada ensinam à falta de disciplina que não há. As crianças que são bem comportadas e desejam aprender pouco aprendem. Aos meninos da Mitra não se lhes pode aplicar palmatoadas para os conter na ordem, evitando que, por sua ruindade contagiosa, corrompam os bons costumes das crianças bem educadas. Daqui nasce a imoralidade das novas gerações, cuja educação não pode a escola conseguir.

Que interessante é uma escola bem disciplinada! Mas onde a há que deixe de ser perturbada por algum de entre muitos que, saindo do seu tugúrio[2] vem incorporar-se na comunidade limpa e asseada e eivá-la dos vermes da destruição moral, corrompendo pelo mau exemplo os corações bem formados, as consciências limpas de tantos outros de famílias de sãos costumes.

Separem-nos! Não pode ser![3] O lobo e a ovelha não podem coexistir, porque as leis da natureza imperam na própria índole."

Deliciosa prosa! Não lhe acrescentei quaisquer comentários. As razões da transcrição são óbvias. E, se daqui a outros 113 anos, eu ainda for vivo, voltarei ao assunto, dada a sua (mais que provável) actualidade.

ENTRE MARGENS

Apresentei o alvará e logo ouvi o comentário: "De um homem é que nós estávamos a precisar!"

Assim, de imediato, não comprendi a razão da masculina preferência. Mas logo me foi explicado que seria bem-vindo um pedagogo musculado que pusesse na ordem umas pestes de uns alunos que por aquelas paragens perturbavam a placidez dos dias. Trinta repetentes crónicos, armazenados numa só turma, transformavam a vida das professoras agregadas num inferno. A que por lá tinha passado no ano anterior jurara para nunca mais... Tinha sido insultada e apedrejada. O material didático que, na melhor das intenções confeccionava, voava janela fora. E lá se foi, um dia, de atestado médico.

"Um colega é que nos estava mesmo a fazer falta. Do que estes trogloditas precisam é de um pulso firme! Infelizmente, no primário não podemos pô-los na rua, nem mandá-los para casa! Não é?"

"Ainda bem!" - respondi, na mais pura ingenuidade dos "verdes anos" de profissão. E foi como entrar com o pé esquerdo naquela escola. As colegas passaram a olhar-me de esguelha, como quem pensa: lá vem em este armado em bonzinho!

Para abreviar, dir-vos-ei apenas que tudo acabou bem. Só não houve castigos para os maus (como acontece nas telenovelas), porque, afinal... eram todos bons rapazes.

Um novo regime disciplinar.

Está na ordem do dia o debate público do projecto de diploma legal relativo ao regime disciplinar dos alunos. Mas, por estranho que pareça, quase só tenho recolhido de diversas intervenções referências ao "combate à indisciplina" nas escolas. Devo começar por dizer que, por ser pacifista, não poderei participar de qualquer combate. E, igualmente, confessar a minha
incompleta ignorância, pois de indisciplina nada sei.

Aqui poderia dar o artigo por concluído e com justíssima causa. Mas, como sou de natureza verrumosa, este meu mau feitio impele-me a perguntar, por exemplo: como é que alguém, que critica o ministério por não lhe ter dado a ler um documento, pode criticar um documento que o ministério ainda lhe não deu a ler? Não percebo, mas aconteceu.

No pressuposto de que, à data da publicação deste meu texto; já todos terão tido acesso ao documento e, depois de o terem lido, terão opinião formada sobre o assunto, sobre ele passo a tecer algumas considerações, porque também já o li.

O diploma em vigor desde há duas décadas apenas serviu para legitimar a banalização de um sistema de sanções. Os processos disciplinares funcionaram como amortecedores de tensões, não lograram eliminar as causas dos conflitos. O projecto de diploma legal que se encontra em discussão parte de um outro quadro de referência, mas continua a enfermar do mesmo mal. Ainda que sob a eufemística designação de "medidas educativas disciplinares", dois terços da proposta de normativo refere-se, directa ou indirectamente, a repreensões, suspensões, expulsões e quejandos, reflexos de uma
racionalidade arcaica, infectada por sentimentos negativos de desconfiança, insegurança, desforço. Não ouso duvidar das boas intenção do legislador, mas talvez se tenha deixado tentar por um fatal "meio-termo".

Indisciplina, a filha dilecta do autoritarismo e da permissividade.

A disciplina a que me refiro é a liberdade que, conscientemente exercida, conduz à ordem; não é a ordem imposta que nega a liberdade. Enquanto não compreendermos isto, não compreenderemos mais nada.

O problema da disciplina só pode ser equacionado globalmente e não restrito à escola. Mas não estou a refirir-me ao triste espectáculo da "disciplina" partidária, do reflexo condicionado que provoca um erguer de braço sempre que o líder ordene. Nem me refiro à disciplina ausente de certas reuniões e assembleias, nas quais o caos e o falar mais alto que o próximo se sobrepõem ao civismo e à razão.

A disciplina poderá ser alcançada e mantida com recurso a mais castigos, normas, multas, punições? Duvido. Talvez dependa mais da criação de condições para o exercício de uma liberdade responsável, na escola e fora dela. Será o exercício da cidadania, dentro e fora da escola, que viabilizará a formação pessoal e social de alunos-pessoas responsáveis pelos seus actos, individuais ou colectivos, e dispensará quaisquer imposições normativas de códigos de conduta. Mas como conseguir tal desiderato, se as escolas raramente se constituem em espaços democraticamente organizados?

Dizei-me: quem institui as regras, os direitos, os deveres? Quem estabelece e gere horários e calendários? Quem define objectivos e projectos?

Onde pára uma pedagogia da participação e da democraticidade que atenue o sobrepovoamento dos depósitos de alunos em que muitas das nossas escolas se converteram? É o aluno que está doente, ou estará doente a escola e a sociedade que a engendrou e alimenta?

Será com mais represálias que se eliminarão as causas do desconforto das violências? Será que o respeito, que muitos dizem estar em déficite, é uma réplica do medo que tínhamos na escola de antigamente?

Qual o espaço social de intervenção que cabe aos pais dos alunos? E a outros agentes educativos? Quantas escolas agem cooperativamente na apresentação, discussão, aprovação e aplicação das normas que integram o seu regulamento?
Qual o grau de participação activa dos alunos na sua elaboração? Se os alunos (e os pais dos alunos) não sentem a escola como coisa sua, por que hão-de respeitá-la? Porque hão-de respeitar regulamentos de cuja elaboração não participaram?

Em quantas das nossas escolas os representantes dos alunos nos órgãos de administração e gestão e de coordenação pedagógica exercem em pleno as suas funções e fazem valer os seus direitos? Por que será que a maioria dos
regulamentos que conheço são repositórios de proibições, de sentenças inevitavelmente iniciadas pela palavrs NÃO? (E nem sequer se trata de colocar a ênfase nos deveres: trata-se de ostracizar os direitos) Por que razão plausível não hão-de os jovenzinhos contrariar prescrições a que são alheios? Na determinação "não é permitido fumar nas casas de banho",
qualquer normal aluno (ainda que não-fumador fundamentalista) lerá, em desafio: "vamos tirar umas passas p'rá retrete, só p'ra chatear os setôres".

Se fosse possível isolar os factores que concorrem para a generalização da indisciplina, avultariam, quer a falta de formação dos professores no domínio relacional, quer a racionalidade que preside ao modo como a escola se organiza. Por muito que nos perturbe a afirmação, as escolas ainda são, como outras organizações, redutos de micro-poderes, mais ou menos ocultos, resistentes a processos de mudança e de democratização. As manifestações de indisciplina não serão também reflexos da impotência que advém da perda de prestígio e credebilidade das instituições? Por quanto tempo mais nos iremos
manter no precário oscilar entre duas posições estéreis, entre um pessimismo reaccionário e inconsequentes boas-vontades? Como poderemos pensar em controlar as águas revoltas de um rio, se nos esquecemos das margens que as comprimem?

A "Ponte" entre o carinho e a firmeza

Confesso a minha incompleta ignorância. De indisciplina nada sei. Sei de crianças que dão lições de autodisciplina na sua escola. Sei de crianças que não entendem a indisciplina do gritar mais alto que o próximo, nas assembleias de adultos, porque na sua assembleia semanal erguem o braço quando pretendem intervir. Sei de crianças de seis, dez, doze anos, que sabem falar e calar, propor e acatar decisões. São crianças capazes de expor, com serenidade, conflitos e de, serenamente, encontrar soluções. São cidadãos de tenra idade que, no exercício de uma liberdade responsavelmente assumida, instituíram regras que fazem cumprir no seu quotidiano.

A indisciplina é a filha dilecta do autoritarismo e da permissividade. A disciplina a que me refiro é a liberdade que, conscientemente exercida, conduz à ordem; não é a ordem imposta que nega a liberdade.

Na Escola da Ponte, cada criança age como participante de um projecto de preparação para a cidadania no exercício da cidadania. Foi por isso que se constituiu a Assembleia de Alunos que reúne semanalmente. Através deste, como de outros dispositivos, as crianças não são educadas apenas para a autonomia, mas através dela, nas margens de uma liberdade matizada pela exigência da responsabilidade.

Buscamos, desde há 25 anos, a escola de cidadãos indispensável ao entendimento e à prática da Democracia. Procuramos, no mais ínfimo pormenor da relação educativa, formar o cidadão participativo e sensível, o cidadão fraterno e tolerante. Para substituir a cultura do individualismo egoísta pela cultura da solidariedade, é necessário vivê-la e ensiná-la na escola,
em todos os dias, em todas as horas... com o q. b. de carinho e firmeza.

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[1] Decreto-lei nº 270/98 de 1 de Setembro

[2] Leia-se, em 1998, "bairro degradado", "minoria étnica", "cultura
marginal à escola de elites"...

[3] Ouvi idêntica exclamação numa reportagem transmitida pela SIC, em 10 de
Setembro de 1998.
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Curso FAZER A PONTE
http://www.aquifolium.com/ponte/

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posted by Leila País de Miranda @ 8:46 AM 1 comments

sexta-feira, junho 02, 2006

Carta do Professor Jose Pacheco para mim!!!!!!!!!!!!!


Bom-dia, Leila!
Tudo tem a ver com perguntas e com teorias. O rol de comentários breves, que fizeste, dariam para muita conversa. Mas, porque não fizeste perguntas, respostas não darei... Somente agradeço os comentários, enviando um textinho que publiquei na Sinapse e que não sei se será do teu (vosso) conhecimento. Esta é a versão "integral", que contém mais considerações que as que foram publicadas na Folha de São Paulo.

As escolas invisíveis

Perguntam os meus patrícios por que razão eu viajo tanto para o Brasil. E eu explico. Se comparadas ao Brasil, as escolas europeias dispõem de melhores recursos. Porém, acumulam-se as teses sobre o mal-estar docente, sem que se vislumbre a cura para a maleita dos professores. As escolas do "primeiro mundo" converteram-se ao digital, mas mantêm e reforçam práticas de ensino obsoletas. Os excelentes profissionais que elas albergam possuem saberes suficientes para romper o círculo vicioso do insucesso, mas o insucesso mantém-se e prospera. As escolas portuguesas têm meios para se afirmarem como espaços de democratização, mas estão acomodadas, cínicas.

Sem dualismos maniqueístas, é preciso afirmar que há, no Brasil, muitos professores que dão sentido às suas vidas, dando sentido à vida das crianças e das escolas. Sinto-me um privilegiado por, após três décadas de trabalho numa escola que ousou provar que a utopia é realizável, encontrar no Brasil tanta generosidade e responsável ousadia.

Em cada viagem, junto mais uma ou duas novas escolas ao já extenso rol. No extremo norte do país, um colégio busca a forma ideal de escola que dê a todos garantia do exercício da cidadania e de realização pessoal. Num hospital do sul, uma equipa de professores, técnicos de serviço social, animadores e voluntários suavizam os dias de crianças doentes. Num lugarejo perdido do Nordeste, a fé pedagógica faz milagres e produz um ensino que faria inveja de muito colégio (dito) de elite. Junto ao mar de Santa Catarina, crescem as paredes de uma escola sem paredes, que concretizará o sonho de um pequeno grupo de educadores. Em São Paulo, por detrás de um pesado portão protector, um jardim-de-infância feito à medida da criança comove o visitante mais insensível. Na periferia da grande metrópole, professores e pais juntam-se a amigos e pesquisadores, para dar forma a um projecto que transformou "salas de aula" em "espaços de estudo". Numa escola do Rio, os sonhos de uma escola à medida do Homem ganham forma, fazendo das crianças pessoas mais sábias e mais felizes. Sob o "mar de Minas", uma mulher empenha-se na humanização de uma academia de polícia. Na Bahia, um homem bom reinventou modos de ensinar e aprender e um grupo de voluntários leva esperança a uma escola no interior de uma favela. Perto do lugar onde Cora viveu, a tenda de circo e a ágora resgatam a vocação da escola. Em pleno centro da capital, a diversidade cultural assume contornos reais, uma fundação procura respostas para os "diferentes", e uma ONG suporta a humanização do sistema de relações numa escola antes condenada à desactivação.

Durante o período negro dos governos de militares, muitos projectos pereceram. Mas uma nova geração de educadores emerge. Uma ruptura paradigmática se anuncia. As escolas invisíveis não prescindem de um património comum e são alheias a modas pedagógicas. Assistiram à ascensão e à queda do modismo construtivista, e foram imunes ao fenómeno. Não fossilizaram Vigotsky e Piaget. Adoptaram-nos, adaptando-os, contextualizando-os. As escolas invisíveis recuperam uma tradição esquecida. Redescobriram Anísio Teixeira, que, nos anos 30, defendia a necessidade de mudar a escola, para que esta se tornasse um instrumento de mudança social. Reencontraram Lauro Lima, que, na década de 60, fez a reinterpretação brasileira do pensamento de Piaget. Recuperaram os contributos de Paulo Freire.

Apetece perguntar: por que razão os professores das escolas brasileiras não estudam devidamente estes e outros autores? Talvez porque nos centros de decisão e nos lugares onde, supostamente, se produz ciência, abundem teóricos redundantes. Já li disparates escritos sob a forma de trabalho científico. Se alguns teóricos adoptaram Dewey, outros rotularam o Anísio de "liberal conservador". Os teóricos redundantes, especialmente especializados em citações de citações, enfeitam as suas teses com "construtivismos" e quejandos, sem que façam a mínima ideia da realidade que subjaz às citações. Os teóricos redundantes são uma praga na formação de professores. Não geram conhecimento, apenas especulações que se refutam mutuamente e não fertilizam as práticas. As escolas invisíveis agem à margem dessas bizantinas criaturas e da sua despicienda labuta teórica, sem que fiquem cativas de um praticismo inconsequente feito de rotina e caprichos.

É sabido que um dos obstáculos à mudança nas escolas radica no predomínio de uma cultura pessoal e profissional dos professores, que os convida à acomodação. Mas importa acrescentar o que vem sendo escamoteado: quer essa cultura é reforçada pela formação de professores que ainda se vai fazendo...

O modo como os professores aprendem é o mesmo com que ensinam. Este inevitável isomorfismo da formação mostra-se fatal para as aspirações dos governantes a novas e melhores práticas escolares. Se os professores são formados em métodos passivos, poder-se-á esperar que desenvolvam métodos activos com os seus alunos? Mutatis, mutandis: se foram formatados numa inútil acumulação cognitiva, irão adoptar o modelo transmissivo.

"A mente apavora o que ainda não é mesmo velho" e, em muitas instituições de formação, existe algo comparável a uma conspiração de silêncio. Em quantas instituições de formação de professores se fala, por exemplo, de Ferrer e da tradição libertária em Educação? Quantos formadores de professores ousam mencionar Feyerabend e assumir o princípio que nos diz ser a poesia um meio de explorar a realidade, ou o Freud que nos diz que só se aprende algo por amor a alguém? Quantos assumirão que a "flecha do tempo" (Prigogine & Stengers) é, também, referência na relação educativa, ou que toda a inovação comporta a intervenção do acaso? Muitos autores foram banidos dos manuais. E não são poucas as universidades que sofrem dessa amnésia, que não se libertaram de um conceito clássico de ciência, e reproduzem fundamentalismos pedagógicos estéreis. Porém, apesar da escola de formação (e contra a escola de formação), os professores das "escolas invisíveis" rompem com o fatalismo da reprodução do insucesso e da exclusão.

Assim como certas correntes de pensamento, teorias e pedagogos permanecem invisíveis, também são invisíveis certas escolas. Mas estas por uma boa razão, porque a visibilidade social volta-se contra os projectos de mudança reflectida que essas escolas empreenderam. Há escolas onde a reelaboração cultural acontece e as concepções e práticas educacionais evoluem... discretamente.

Poderão pensar os mais cépticos que se trata de um devaneio. Pois que continuem a pensar. O Brasil desconhece o que tem de melhor. Uma reforma silenciosa, marginal às tentativas oficiais de reforma, está acontecendo por aí, num tempo de transição entre a História e o advento da Era do Espírito. Os professores que as habitam não recebem reconhecimento público. Por vezes, recebem injustiça, mas dão lições de resiliência. Esses professores são mal remunerados, mas não usam o baixo salário como álibi para a inacção. Constroem uma escola para todos com garantia de excelência académica. Não auferem de benefícios, nem aspiram à celebridade. Coleccionam dificuldades e incompreensões. Fazem milagres com os recursos de que dispõem, que o Brasil não é pobre em recursos humanos. O Brasil desperdiça recursos.

Os educadores anónimos que habitam as escolas invisíveis tecem uma rede de fraternidade. São fonte de esperança, num Brasil condenado a acreditar que, pela Educação, há-de chegar ao exercício de uma cidadania plena.

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posted by Leila País de Miranda @ 10:11 AM 1 comments