historinhasdamoleque

terça-feira, junho 28, 2005

www.mundocanibal.com.br

Um aluno de 7 anos trouxe o endereço do site todo contente, querendo mostrar para todos os colegas. A parte de entrar até que foi legal. Ele não conseguia escrever sozinho e o endereço acabou sendo uma construção coletiva. Também era bacana o fato dele falar para os outros que podiam esperar um pouco, "brincartrabalhar" nos seus computadores, porque o que ele queria mostrar estava carregando. Quando finalmente começou era uma animação em flash chamada "avaiana de pau" com locução engraçada, imitando criança.

Senti um misto de vontade de rir com horror e desagrado, nojo, e um certo medo também, quando vejo o que as crianças vêem. No caso do menino que trouxe a informação, foi um tio dele, adulto, que apresentou o site.

Por mais que eu queira não ser exagerada, é muita violência! É dedo sangrando, ficando no osso... Parece Tom e Jerry ou Coyote e Bip-Bip elevado à 10a. potência, como se os matadores de Tim Lopes estivessem escrevendo o roteiro.

Eles viram os filminhos, e depois fizeram suas próprias atividades, inclusive o Lucas (que trouxe a idéia), que estava mesmo construindo fases de Lode Runner (um joguinho de inteligência), com o Gustavo.

No final da aula eu fiz uma roda e pedi a cada um uma palavra que expressasse o que havia sentido assisindo àquele filme. Todos disseram "Adorei", menos o Eduardo, que desde o início não tinha gostado. Eduardo chegou a ficar meio pálido, pensei que fosse enjoar. Ele preferiu minhas palavras "nojento e desagradável".

Hoje li sobre "bullying" no site http://www.campmakebelievekids.com/Bullying.htm, Não sei o nome em português, mas deve ser algo como sadismo. Também li um outro blog - dot.dot.dot http://www.pontomidia.com.br/ricardo/ que apresentava um texto sobre gêmeos que questionava mais uma vez quem é mais determinante no comportamento - os gens ou o meio.

Será que faz mal às crianças assistir este tipo de coisa?
Será que faz com que pensemos em outros tipos de violência, mais reais, tais como fome, prostituição infantil, exploração, falta de saúde, de saneamento, de amor e vida na rua?
Será que a visão da violência transforma o bom no mau?
No momento ainda estou confusa, reflexiva, não sei bem como agir. Decidi que não vou mostrar para nenhuma criança, mas caso alguma outra chegue naquele estado do Lucas, toda feliz, querendo mostrar, não sei prever o que farei.
O que sei é que agora, não sei explicar porquê, meio com um espírito engraçado, vou baixar aqui a animação e mostrar para o Luís Eugênio e para o Nilton, meus sócios.
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Engraçado é que ontem (escrito no dia seguinte) fui até a sala das crianças de 5 anos no Maia e a professora deles estava meio irritada com a barulheira e aí eu chamei atenção para mim e disse, brincando e me divertindo também: "Olha que existe "Avaiana de Pau", heim??"e contei a história mais ou menos.

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posted by Leila País de Miranda @ 10:25 PM 16 comments

quinta-feira, junho 23, 2005

Hoje não

Quinta e sexta eu não convivo com as crianças. Fico trabalhando, revendo trabalhos, trabalhando sobre o trabalho, procurando software, estudando, ou cuidando da adminstração da moleque de ideias.

Ontem gostei de publicar o que a Letícia disse sobre mim. Devo confessar que primeiro salvei como rascunho, não tive esta coragem toda. Mas - não sei precisar o momento do envio - está lá, publicadíssimo.

Dente de jacaré, juba de leão, credo! Mas foi muito bacana dar voz (e texto) à Letícia (4).

É difícil, mas tem coisas aí que são verdadeiras. Como também é verdadeiro que o Tiiiiiaaa é chato demais.

Eu adorei mesmo foi ela dizer "sempre de colar sempre de pelo", repetindo o sempre. Eu amo o jeito como eles falam!

E também como escrevem.

Ontem a Mariana (6) escreveu, depois de colorir uma figura do Piu-Piu: "eumave Piu e a psarino". Queria dizer "era uma vez o piu-piu e uma passarinha". Mais tarde ela escreveu PICZA por Princesa e eu fiquei encantada. Ao mesmo tempo, fico em dúvida: eu não quero corrigir porque me parece muito destrutivo, até maldade com as crianças, mas ao mesmo tempo tenho medo de estar deixando as crianças gravarem formas erradas, e de estar fazendo mal a elas mesmo. Tenho optado por deixar permanecer a codificação que a criança expressou (principalmente nesta fase da alfabetização), elogiando muito, demonstrando meu encantamento pela graça que é e pelo que representa o esforço e o sucesso da codificação, e então, às vezes ainda meio incomodada e constrangida, acrescento mais alguma informação (h depois do n prá fazer o som do nha, por ex) assim de leve, como uma coisa que não tem esta importância toda, e achando que talvez seja bom para elas.

Outra coisa que não pude deixar de notar foi que eu estava bem reclamona esta semana. Vejamos na próxima. Pela minha experiência, vou registrar momentos muito legais aqui.

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posted by Leila País de Miranda @ 3:05 PM 0 comments

quarta-feira, junho 22, 2005

É chato demais esse Tiiiiiiaaaaaaaaaa

É muuuuiiiiito chato este jeito que as criancas chamam Tiiiiiiiiaaaaaaaaaaaa!

Cruzes!

Hannah (5), Júlia (5), Anna Clara (5) e Letícia (4), quando querem ser atendidas, chamam Tiiiiiiiiiaiaaaaa sem parar até que eu fique loooooouuuucccaaaaa!

Eu ja expliquei mil vezes para esperarem que eu já já vou passar na mesa delas, mas elas precisam que eu escreva
isto na frente delas (eu tinha dito que ia contar para todo mundo no meu blog, e fui escrevendo isto, com elas observando) para se convencerem de que é mesmo um caso muito sério e elas devem prestar atencão!!!!!

Leila

E aí a Letícia resolveu que queria se expressar no blog também. Ela falou e eu escrevi o que segue:

Leila é muito brava!
E muito também nervosa!
E muito orelha de burro!
E com uma juba de leão!
E com dente de jacaré!
E sempre tá com cordão sempre de pelo!
E sempre está com uma blusa marrom!
E com nariz de Pinóquio!

L3TTTTTT
LETICIA

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posted by Leila País de Miranda @ 1:56 PM 0 comments

terça-feira, junho 21, 2005

Muito chato este dia.

Tem dia que é assim, enjoado.
Um dos computadores tinha voltado do conserto e mesmo achando que tinha chance de não estar funcionando de verdade, quis me enganar. Liguei, vi que funcionava, fiquei toda alegre, e pimba! Logo depois tava lá a setinha parada, ele travado, e nada de funcionar durante o dia inteiro. Triste.

Também fiquei meio injuriada com as crianças. Sabe aqueles dia que a gente vê tudo por umas lentes meio acinzentadas?
Pois é.

Me irritei com vozes, atitudes, fiquei achando que o meu trabalho é uma porcaria sem valor...

Mas como canta o Roberto Carlos, Obrigada Senhor, por mais um dia!

E como canta o Renato Russo, agora visitado pelo Pensador: "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. E se você parar prá pensar, na verdade não há."

Por isso, o presente é o que a gente constrói. Vamos esperar o mau-humor passar e voltar a amar, que é o que importa.

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posted by Leila País de Miranda @ 6:41 PM 0 comments

Victor Jose

Credo!
Victor José ficou pondo a culpa em Lucas de tudo que tinha acontecido de errado com a filmagem deles!

Credo!
Não adianta e é perda de tempo. O sujeito se defende do nada !!!!

Meu Deus!

Que atitude inútil e irritante e sem pé nem cabeça, muito menos cabeça!!!!

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O fato das crianças colocarem a culpa nos colegas à toa, como primeira opção, sempre me chamou a atenção. Eu sempre digo que não ajuda em nada, que não estou interessada nisso, que o importante é reconhecer que não sabíamos ou que o caminho tentado estava errado, o que é inerente a processos de apendizagem, e até condeno explicitamente a pessoa que "entrega" os outros - o famoso dedo-duro - mas é incrível como sempre vem a condenação do outro, sob as mais variadas formas:
- "Viu? Eu não te disse que não era ali?" (olhando para o outro)
- "Ele ficou clicando em tudo!" (olhando para mim)
- "Ela fez esse monte de bobagens!"
e por aí vai; com certeza eu poderei acrescentar várias e várias frases de entregação.

Ontem por exemplo, foi o Victor, mas esta atitude é muuuuuiiito comum.

E a gente vê como não está só presa ao mundo das crianças. Para os professores também, a "culpa" das coisas - incluindo a impossibilidade de mudar a escola - é sempre dos outros: dos diretores, dos alunos, dos pais dos alunos...

Esta é uma das atitudes do humano que eu gostaria de ajudar a mudar, a começar por mim.

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Agora mesmo, com o grupo de 4 e 5 anos, a Letícia me disse: "É que eu fui fazer o que ela (Anna Clara) queria e não estava conseguindo e aí aconteceu isso. (um erro qualquer)."

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posted by Leila País de Miranda @ 1:56 PM 2 comments

segunda-feira, junho 20, 2005

Exercício de democracia

Espaços de aprendizagem podem ser democráticos. A participação pode ser voluntária. A dúvida pode ser sempre ouvida e reconhecida. As discussões podem terminar em consenso e podem não precisar dos votos de maioria.

Só a imagem de espaços de aprendizagem com um professor e de um grupo de alunos é completamente antidemocrática.

O ensino através do exercício da submissão não pode construir uma sociedade democrática.

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posted by Leila País de Miranda @ 4:28 PM 0 comments

Muito bem. Comecei!

Graças à Aparecida Padilha, comecei a escrever hoje o que já venho planejando há algum tempo. Porque ela me mandou seu blog e aí quando vi eu estava registrando este aqui. Vamos ver no que dá.

Trabalho com crianças de 4 a 10 anos desde 1996, mais intensamente desde 2000, e acontece muita coisa engraçada, interessante e algumas vezes angustiante também. Acho que muitas rendem boas histórias, que gosto de contar e que as pessoas gostam de ouvir. Não sei se conseguirei escrevê-las, ou se sou melhor contadora do que escritora, mas quando eu era pequena eu adorava ler as histórias que o Dr. Pedro Bloch escrevia sobre seus pequenos pacientes, e que se chamava "Criança tem cada uma!". Acho que quero escrever histórias assim como ele.

Eu gostaria mesmo que o que eu vier a escrever aqui sirva para ajudar alguém. As crianças, seus pais, ou qualquer pessoa que por dentro se lembre como é ser criança.

Tomara que eu consiga!

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posted by Leila País de Miranda @ 3:49 PM 0 comments